O incêndio a bordo do cargueiro Morning Midas, que transportava mais de 3 mil veículos — incluindo cerca de 70 elétricos e 680 híbridos — reacende o debate sobre os desafios logísticos e de segurança no transporte marítimo de automóveis. Embora o foco imediato recaia sobre os veículos eletrificados, é fundamental analisar o contexto com equilíbrio e evitar conclusões precipitadas.
O que aconteceu com o Morning Midas?
Na tarde de 3 de junho de 2025, o navio Morning Midas, operado pela Zodiac Maritime e fretado pela Anji Logistics (subsidiária da SAIC Motor), pegou fogo enquanto navegava no oceano Pacífico, a cerca de 300 milhas da ilha de Adak, no Alasca. A embarcação seguia rumo ao porto de Lázaro Cárdenas, no México, após partir de Yantai, na China, com escalas em Nansha e Xangai.
A bordo estavam veículos de marcas como Chery, Great Wall Motor e possivelmente modelos da SAIC-GM, como o Buick Envision. De acordo com fontes ouvidas pela imprensa, a Great Wall Motor tinha cerca de 140 automóveis no navio — nenhum deles elétrico ou localizado no convés onde o fogo teria começado.
A tripulação, composta por 22 pessoas, tentou conter o incêndio utilizando o sistema de supressão de CO₂ da embarcação. No entanto, devido à intensidade das chamas, foi necessário abandonar o navio. Todos os tripulantes foram resgatados com segurança por um navio mercante que navegava nas proximidades.
Ainda não há confirmação oficial sobre a causa exata do incêndio, embora os primeiros sinais indiquem que ele possa ter se iniciado no convés onde estavam os veículos elétricos.
O desafio das baterias de íons de lítio
Baterias de íons de lítio, comuns em veículos elétricos, apresentam riscos específicos, como a possibilidade de fuga térmica — uma reação em cadeia que pode levar a incêndios difíceis de controlar. Apagar um foco desse tipo pode exigir grandes volumes de água e equipamentos especializados.
No entanto, é importante destacar que incêndios em navios transportando veículos não são exclusividade dos modelos eletrificados. Em 2022, o Felicity Ace, carregando cerca de 4 mil veículos — incluindo elétricos —, pegou fogo e afundou no Atlântico. Já em 2023, o cargueiro Fremantle Highway sofreu um incêndio próximo à costa da Holanda; posteriormente, foi determinado que os veículos elétricos a bordo não foram a causa do fogo.
Cautela nas conclusões
Embora a presença de veículos elétricos possa dificultar o combate a incêndios, atribuir a culpa exclusivamente a eles sem uma investigação conclusiva é precipitado. Especialistas apontam que, historicamente, incêndios em navios também têm sido causados por falhas elétricas em veículos a combustão, vazamentos de combustível e outros fatores mecânicos.
A transição para a mobilidade elétrica impõe novos desafios, mas também oferece oportunidades para aperfeiçoar protocolos de segurança em toda a cadeia logística. Sistemas de supressão mais eficazes, treinamento específico para tripulações e normas claras para o transporte de baterias são medidas que precisam avançar.
É essencial que o debate sobre esses incidentes seja pautado por dados técnicos, evitando generalizações e distorções que prejudiquem a percepção pública sobre os veículos elétricos. Acidentes podem ocorrer com qualquer tipo de tecnologia — o importante é aprender com eles e fortalecer a segurança da mobilidade do futuro.
