O cenário da mobilidade eletrificada no Brasil vive nesta semana um de seus capítulos mais tensos. O Comitê Executivo da Câmara de Comércio Exterior (Gecex-CAMEX), ligado ao governo federal, realiza uma reunião extraordinária para avaliar um pedido da montadora chinesa BYD, que busca a redução temporária de tarifas de importação para veículos eletrificados desmontados nos regimes SKD e CKD. A solicitação acontece justamente no momento em que os Estados Unidos se preparam para aplicar, a partir desta sexta-feira (1/8), novas tarifas de 50% sobre produtos brasileiros — contexto que amplia a sensibilidade política da decisão.
O movimento da BYD, que iniciou em junho sua operação de montagem em Camaçari (BA), visa garantir competitividade durante a fase inicial de sua implantação industrial no país. Segundo a empresa, os incentivos pedidos estão alinhados com o planejamento firmado com o governo baiano e preveem a nacionalização gradual da produção até julho de 2026. No entanto, o pleito provocou uma reação coordenada sem precedentes entre as principais montadoras instaladas no Brasil.
Carta conjunta e reação institucional
Volkswagen, Toyota, General Motors e Stellantis assinaram uma carta endereçada diretamente ao presidente Lula, posicionando-se contra qualquer concessão tarifária à BYD. O argumento central é que a flexibilização pode consolidar um modelo de negócios baseado em importação e montagem superficial, em vez de incentivar a industrialização profunda e a geração de empregos qualificados no Brasil. As empresas alertam que, diferentemente do que sugere a montadora chinesa, a importação de kits desmontados não seria uma etapa de transição, mas uma ameaça direta à cadeia nacional.
Na carta, as montadoras lembram ainda que o setor planeja investir R$ 180 bilhões até 2030 e defendem que a previsibilidade regulatória é fundamental para garantir tais aportes. A Anfavea, entidade que representa os fabricantes, também se mobilizou. Em ofícios encaminhados aos ministérios da Casa Civil e do Desenvolvimento, alertou que a produção local gera até 10 empregos indiretos por vaga, enquanto a montagem com kits importados gera apenas dois ou três.
Entidades de autopeças, como Abipeças e Sindipeças, reforçaram a crítica, alegando “favorecimento injustificado” à BYD e alertando para o risco de desmobilização de fornecedores locais. Já federações industriais de oito estados e sindicatos de metalúrgicos de todo o país se uniram em coro, mencionando impactos diretos sobre fábricas como a da Stellantis em Goiana (PE) e a da GM em Joinville (SC).
A resposta da BYD: “O meteoro chegou”
Em resposta, a BYD publicou uma carta aberta com tom provocativo, acusando as rivais de promover uma “chantagem emocional” para manter um modelo ultrapassado. A montadora afirma que sua proposta não busca uma vantagem competitiva indevida, mas apenas um tratamento equitativo durante a transição industrial. Segundo a empresa, sua fábrica já está em estágio avançado e, em menos de um ano e meio, deve atingir produção plena com nacionalização de até 70% dos componentes.

A BYD também lembra que modelos semelhantes foram adotados anteriormente por outras fabricantes no país e que sua chegada já provocou queda significativa de preços no segmento de elétricos. A empresa vê na reação das concorrentes o incômodo causado por sua capacidade de entregar tecnologia de ponta com custo mais acessível — e afirma que, se “os dinossauros estão gritando, é sinal de que o meteoro está funcionando”.
Em jogo: política industrial e o rumo da mobilidade
A decisão da CAMEX deve representar mais do que uma disputa comercial pontual: ela pode traçar os contornos da política industrial brasileira para a mobilidade sustentável na próxima década. De um lado, há o desejo de acelerar a transição energética com mais competitividade e inovação; de outro, o temor de uma desindustrialização silenciosa caso se consolide um modelo baseado em importações e montagem simplificada.
O Brasil se encontra, portanto, num cruzamento decisivo entre proteger o que já está instalado e abrir caminho para novas tecnologias. A escolha do governo indicará que tipo de futuro a mobilidade nacional pretende construir.
Confira a íntegra da carta divulgada pela BYD:
Por que a BYD incomoda tanto?
Empresa que trouxe carros tecnológicos, sustentáveis e mais acessíveis é atacada por
concorrentes obsoletos
Dizem que o futuro chega de repente. Mas, às vezes, o que chega de repente é o e-mail. O
da vez foi uma carta enviada por quatro das maiores montadoras brasileiras ao Presidente
da República, implorando para ele abortar a inovação. É isso mesmo: pedem, com todas as
letras, que o governo impeça a redução temporária dos impostos para quem ousa oferecer
carros melhores por um preço mais justo.
Assinada por representantes da Toyota, Stellantis, Volkswagen e General Motors, a carta tem
o tom dramático de quem acaba de ver um meteoro no céu. O problema não é o meteoro,
claro. O problema é que ele está sendo bem recebido pelos consumidores — aqueles
mesmos que, por décadas, foram obrigados a pagar caro por tecnologia velha e design
preguiçoso.
Agora, chega uma empresa chinesa que acelera fábrica, baixa preço e coloca carro elétrico
na garagem da classe média, e os dinossauros surtam. Não foi por acaso que uma
concorrente reduziu o valor de um modelo elétrico em mais de 100 mil reais depois da
chegada da BYD. Por que antes custava tanto?
A carta fala em “concorrência desleal”. Porque nada é mais desleal do que alguém jogar o
jogo — e ganhar. Nada mais injusto do que montar um carro no Brasil sob o regime autorizado
pelo governo, com data marcada para nacionalizar a produção, e ainda assim entregar um
produto que as “locais” não conseguem nem sonhar em oferecer.
A reação da Anfavea e seus associados, infelizmente, não é novidade. Trata-se do velho
roteiro de sempre: diante de qualquer sinal de abertura de mercado ou inovação, surgem as
ameaças de demissões em massa, fechamento de fábricas e o fim do mundo como
conhecemos. É uma espécie de chantagem emocional com verniz corporativo, repetida há
décadas pelos barões da indústria para proteger um modelo de negócio que deixou o
consumidor brasileiro como último da fila da modernidade.
A ironia é que enquanto as cartas se empilham em Brasília, os consumidores já tomaram sua
decisão. Basta olhar os comentários nas redes sociais da própria Anfavea: “Lutar por carro
mais barato vocês não lutam, agora querem nosso apoio pra que?”. Ou ainda: “Sempre vou
dizer o seguinte: se a Anfavea está tão incomodada, é porque o outro lado vale a pena”. Os
brasileiros querem andar para frente e não seguir em marcha a ré.
A redução temporária de imposto que a BYD pleiteia segue uma lógica simples e razoável:
não faz sentido aplicar o mesmo nível de tributação sobre veículos 100% prontos trazidos do
exterior e sobre veículos que são montados no Brasil, com geração de empregos locais,
movimentação da cadeia logística e pagamento de encargos. Isso não é nenhuma novidade,
outras montadoras já adotaram a mesma prática antes de ter a produção completa local.
E a BYD está fazendo isso. Em menos de um ano e meio, já está finalizando a primeira etapa
das obras da fábrica em Camaçari (BA), no mesmo local onde outra montadora, que também
era tradicional, desistiu do Brasil. Apenas o galpão de montagem final já é mais do que a
metade do tamanho da antiga fábrica inteira. E o contrato com o Governo da Bahia já previa
essa fase inicial de montagem enquanto o restante da estrutura é finalizado. Nada foi
alterado. Tudo dentro do planejamento desde o começo.
O incômodo das concorrentes não tem a ver com impostos, nem com montagem, nem com
empregos. Tem a ver com a perda de protagonismo. Com o fato de que um novo player
chegou oferecendo mais e cobrando menos. Com o fato de que a tecnologia finalmente
deixou de ser um luxo para poucos e virou realidade para muitos.
O que a BYD propõe ao Brasil não é um atalho nem uma esperteza fiscal. É uma visão de
futuro com veículos mais limpos, mais seguros, mais conectados e com custo-benefício justo.
Ajudar o Brasil a acelerar essa transição é um movimento estratégico não só para a marca,
mas para o país.
O Presidente deveria ouvir essas cartas — e usá-las como prova de que está no caminho
certo. Porque se os dinossauros estão gritando, é sinal de que o meteoro está funcionando.
BYD AUTO DO BRASIL
