O governo federal publicou, na quinta-feira (10), o decreto que regulamenta o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover). A iniciativa tem dois eixos principais — o Carro Sustentável e o IPI Verde — e traz mudanças relevantes na forma como os impostos sobre veículos são calculados no Brasil. As novas regras afetam diretamente os carros eletrificados, especialmente os modelos híbridos atualmente importados, muitos deles vindos da China.
O que muda
A partir de agora, veículos compactos com motor flex produzidos no Brasil poderão ter alíquota de IPI zerada até dezembro de 2026. Para isso, precisam atender a critérios técnicos, como possuir mais de 80% de conteúdo reciclável, baixa emissão de poluentes e alto índice de componentes nacionais. Esses são os requisitos definidos pelo programa Carro Sustentável.
Ao mesmo tempo, o governo criou um novo sistema de tributação, chamado IPI Verde, que funciona como um mecanismo de compensação fiscal. A proposta é equilibrar a perda de arrecadação com os incentivos concedidos ao Carro Sustentável, aplicando alíquotas mais altas sobre veículos que apresentem maior impacto ambiental. Dessa forma, modelos menos eficientes, como os movidos exclusivamente a gasolina ou diesel, passam a ser sobretaxados, enquanto os mais sustentáveis têm redução no imposto.
Impacto nos híbridos e importados
Com a nova metodologia, o cálculo do IPI deixa de considerar apenas a cilindrada do motor e passa a avaliar o impacto ambiental de cada veículo. Isso inclui todos os modelos vendidos no país — nacionais e importados. O objetivo é aplicar uma política de incentivo baseada em sustentabilidade e eficiência energética.
Na prática, isso reduz as vantagens fiscais para os híbridos importados que usam apenas gasolina e não têm tecnologia flex. É o caso de diversos modelos chineses que atualmente lideram o mercado nacional. Só no primeiro semestre de 2025 (até junho), de acordo com a Fenabrave, o BYD Song foi o híbrido mais vendido do país, com 17.486 unidades emplacadas — somando as versões Pro e Plus —, seguido pelo GWM Haval H6 (12.673) e pelo BYD King (6.254), todos ainda importados e com motores que não utilizam etanol.
Segundo o decreto, veículos a gasolina e diesel, mesmo que eletrificados, receberão as maiores alíquotas de IPI, justamente por não aproveitarem o etanol — um combustível renovável e com menor impacto ambiental.
Nacionalização e incentivos
Fabricantes que já produzem veículos no país devem ser beneficiadas. A Toyota, por exemplo, produz o Corolla Cross Hybrid em Sorocaba (SP), com motor híbrido flex. Isso o torna elegível para isenção de IPI, dentro das regras do Carro Sustentável.

A GWM já anunciou a intenção de produzir o Haval H6 com motor flex na fábrica de Iracemápolis (SP), o que poderá tornar o modelo elegível para a redução de IPI futuramente, caso cumpra todos os critérios exigidos. A BYD, por sua vez, iniciou o processo de montagem do elétrico Dolphin Mini no Brasil, ainda em fase inicial, e planeja nacionalizar o Song Pro com uma versão híbrida flex. Essas movimentações, se concretizadas, poderão credenciar os modelos à nova política de incentivos nos próximos meses.

Como será o novo cálculo
A nova tabela de IPI começa a valer em três meses. A alíquota base será de 6,3% para veículos de passeio e 3,9% para comerciais leves. A partir desses valores, será aplicada uma fórmula que pode aumentar ou reduzir a carga tributária conforme os critérios do programa. Para isso, as montadoras precisam cadastrar os veículos no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), que fará a análise técnica antes de publicar os modelos habilitados.
Não há limite de preço para os carros participantes. A classificação leva em conta apenas fatores técnicos, ambientais e estruturais.
Resumo:
- Carros flex compactos, sustentáveis e fabricados no Brasil terão IPI zerado até 2026.
- Veículos mais poluentes, inclusive híbridos importados a gasolina, pagarão imposto maior.
- Montadoras que investem em produção nacional com etanol devem ser favorecidas.
- Modelos como Corolla Cross Hybrid, Haval H6 flex e Song Pro flex poderão ter redução de imposto.
