O mês de maio trouxe um novo capítulo para a Tesla na China: o Model Y, SUV elétrico da marca norte-americana, foi o mais vendido do país com 24.770 unidades, superando o forte concorrente BYD Song Plus por uma margem apertada de apenas 530 veículos. Os dados são de registros de seguro automotivo monitorados pela plataforma China EV DataTracker, referência no acompanhamento do setor elétrico no país.
O feito chama ainda mais atenção quando se considera que as vendas do modelo caíram 38% em relação ao mesmo mês de 2024. Mesmo assim, o Model Y manteve sua soberania, reflexo da forte presença da Tesla no maior mercado automotivo do mundo.
Essa força não vem por acaso. A Tesla opera na China com uma estrutura singular: sua fábrica em Xangai, a Gigafactory Shanghai, foi a primeira do país a ser totalmente controlada por uma empresa estrangeira, sem a necessidade de joint ventures com montadoras locais — um privilégio que só uma marca com grande poder de negociação poderia conquistar. A planta não apenas abastece o mercado interno como também exporta para diversos países, com níveis de eficiência e escala que tornaram essa unidade referência global dentro da própria empresa.
Outro diferencial é o modelo de vendas adotado: na China, como nos Estados Unidos, a Tesla comercializa seus veículos diretamente ao consumidor, sem concessionárias intermediárias. Isso garante controle total da experiência de compra, padronização de preços e maior margem de lucro. Para o consumidor, representa um processo mais simples, transparente e alinhado às expectativas digitais do público moderno.
O Model Y é peça-chave nesse sucesso. SUV médio, com bom espaço interno, autonomia competitiva e ampla oferta de recursos tecnológicos, ele atende perfeitamente à preferência dos consumidores chineses — que, assim como os brasileiros, demonstram uma clara predileção por utilitários esportivos. A fórmula de design arrojado, desempenho elétrico e conectividade em tempo real tornou o modelo uma escolha aspiracional.

No Brasil, a expectativa pela chegada oficial da Tesla só cresce. No entanto, o caminho ainda esbarra em um obstáculo importante: a chamada “Lei Ferrari” (Lei nº 6.729/79), que regula a relação entre montadoras e concessionárias. Essa legislação impede o modelo de vendas diretas adotado pela Tesla, exigindo a presença de revendedores autorizados para a comercialização de veículos. Sem uma reformulação legal ou acordos específicos, a operação da empresa nos moldes norte-americanos e chineses segue inviável por aqui.
Enquanto isso, cresce no país o número de importações independentes e o interesse por carros elétricos no segmento premium. A entrada da Tesla no Brasil, quando acontecer, poderá redefinir o mercado de mobilidade elétrica, mas dependerá de avanços regulatórios para permitir que a marca repita sua estratégia de sucesso.
O recado que vem da China é claro: com estrutura, produto certo e modelo de negócios inovador, a Tesla segue ditando tendências. Resta saber quando — e como — essa revolução chegará de forma oficial às ruas brasileiras.